Fundos Revitalizar deixam 12 milhões por aplicar

Os três fundos para apoiar a expansão de empresas usaram a quase totalidade dos 220 milhões de euros que tinham. Fundo gerido pela Oxy Capital teve o melhor desempenho.

O Six Senses Douro Valley, em Lamego, com 57 alojamentos de diferentes categorias, é um ‘resort’ de luxo de oito hectares, que tem por base uma quinta do século XIX. O projecto resulta da conversão do Aquapura Douro Valley com a ajuda dos Fundos Revitalizar, instrumentos de capital de risco, criados para promover o crescimento e expansão das PME.

Este é apenas um exemplo das dezenas de empresas que recorreram a estes três fundos até 31 de Dezembro. Segundo as informações avançadas pelo Ministério da Economia ao Económico, os três fundos tiveram uma utilização de 94,3%, ou seja, 207,5 milhões de euros, dos 220 milhões disponibilizados. Este é considerado um desempenho bastante positivo tendo em conta que, no início de Setembro, estavam utilizados pouco mais de 90 milhões de euros, tal como avançou o Económico na altura.

Os Fundos Revitalizar foram criados em 2012 com uma dotação de 220 milhões de euros, assegurada em partes iguais por fundos comunitários (QREN) e por sete instituições bancárias – CGD, BPI, Novo Banco, Millennium BCP, Banif, Montepio e a CCCAM. Os três fundos são geridos por sociedades de capital de risco, seleccionadas por concurso, tendo cada região uma única entidade gestora. Assim a Explorer “ganhou” a região Norte, para a qual estavam reservados 80 milhões de euros, a Oxy Capital ficou com o Centro, igualmente com 80 milhões de euros, e a Capital Criativo ficou responsável pelo Sul, que inclui Lisboa, Alentejo e Algarve, com uma carteira 60 milhões para investir.

De acordo com as informações do Ministério agora tutelado por Manuel Caldeira Cabral, referentes a 2 de Dezembro, o Fundo Revitalizar Centro realizou 83,6 milhões de euros (104,5%), ou seja, já está a reinvestir parte dos 80 milhões que tinha como dotação; o Fundo Revitalizar Norte realizou 75 milhões de euros (93,8%) e o Fundo Revitalizar Sul realizou 48,9 milhões (81,6%).

Segundo apurou o Económico, este impulso nos últimos três meses do ano “é normal” e justifica-se pela própria natureza dos fundos. “São operações difíceis de concretizar e de conseguir fechar, porque há muita resistência por parte dos donos das empresas em abrir mão do controlo”, explicou uma fonte.

Mas nem todas são assim. “O Fundo Revitalizar Norte é um parceiro com uma posição relevante no capital, com envolvência directa na gestão e como tal, com um contributo efectivo e de valor acrescentado nas decisões estratégicas da empresa”, disse ao Económico Gabriela Pinheiro Bastos, directora financeira do Grupo Valindo, que comercializa a marca Girandola. Foi, precisamente, para “reposicionar e expandir” a marca nos mercados nacionais e internacionais que a empresa usou três milhões de euros do fundo.

Os fundos têm a limitação de aplicar apenas 1.500 milhões de euros por ano nas empresas, um valor considerado baixo por muitos. “Consideramos que o limite de 1.500 milhões é insuficiente para médias empresas com a dimensão da Multilem, que pretendem assegurar novos mercados e a ampliação de clientes com igual ou maior capacidade de investimento em certames e eventos dos que já tinha angariado anteriormente”, diz o CEO Pedro Castro. E como “o retorno destes investimentos não é imediato e há mais necessidades de fundo de maneio para poder executar trabalhos para novos clientes de países europeus, alguns entidades públicas, que só muito raramente, efectuam adiantamentos por conta de vendas ou de prestação de serviços” isso justificaria mais dinheiro.

Esta empresa de concepção, produção e montagem de ‘stands’ explica ainda que, “caso surjam desvios ao plano de negócio inicialmente previsto, positivos ou negativos, e que obriguem a um aporte suplementar de capitais próprios por parte dos accionistas, o facto de um fundo já ter esgotado a sua capacidade de investimento pode colocar alguns entraves ao desenvolvimento da actividade da participada ou a redução da participação do Fundo para níveis menos interessantes para todas as partes envolvidas”.

Nuno Gaioso, o presidente da Capital Criativo, a empresa que ganhou a gestão dos Fundos Revitalizar Sul, disse ao Económico que caso estes fundos venham a ser reeditados no âmbito do Portugal 2020, o novo quadro comunitário de apoio, seria de rever este limite. O responsável lembrou ainda que o difícil arranque destes fundos se deveu, em parte, também pela “restrições muito significativas” impostas pelo Finova. “Havia condições que eram tão sem sentido que a própria União Europeia as reviu”.

Diogo Sousa Coutinho, sócio da MCO e da MCO2 Monsanto, que usou o Fundo Revitalizar Sul não só para reformular o mercado de Campo de Ourique mas também para um projecto de cinco edifícios para um complexo turístico em Monsanto, licenciado a 9 de Janeiro, lamenta que o fecho do negócio seja “algo complexo” e envolva “ainda demasiada papelada”. Já Pedro Seabra, responsável pelo Fundo Discovery, que resgatou da falência o Aquapura, defende que “seria importante uma maior flexibilização ao nível dos montantes disponíveis e da periodicidade dos desembolsos”. 

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